Confira nossa lista com os melhores curtas entre as mostras nacional e internacional
O Janela se despediu de 2019 com uma edição reduzida, mas mesmo assim bastante provocadora. Entre os mais de 15 curtas que foram exibidos dos dias 6 ao 10, 3 chamaram a atenção da crítica que vos fala. A minha relação com a curadoria de curtas do Janela sempre foi de amor e questionamentos sobre o que é cinema ou de como seria possível medir qualidade de filmes. E dessa vez não foi diferente, filmes com olhares e narrativas diversos tomaram a tela do Cinema São Luiz, do Cinema da UFPE, do Cinema do Portomídia e do Cinema da Fundação (Derby). Nessa pequena lista trago 3 dos melhores curtas-metragens do Festival.
Rise
Rise – Bárbara Wagner e Benjamin de Burca
Rise, curta nacional coproduzido também pelo Canadá e Estados Unidos, acompanha uma comunidade de jovens artistas, músicos e poetas em um ato de autoempoderamento através de música e poesia na periferia de Toronto, no Canadá. A obra pulsa identidade, e através da musicalidade e da forma em que é filmado, transporta o espectador para o ambiente retratado, que, diga-se de passagem, é deveras charmoso. Bárbara e Benjamin sabem como filmar. É inacreditável a qualidade visual das imagens, esses dois dão muito certo juntos.
Peixe
Peixe – Yasmin Guimarães
A sinopse oficial do curta-metragem Peixe é: Marina é uma jovem mulher que trabalha em belo horizonte realizando entregas com a sua bicicleta. Entretanto, o curta de Yasmin Guimarães vai muito além disso e entrega cenas lindíssimas, bem filmadas e carregadas de significados pessoais. Em conversa com a diretora, ela relata que a cena final do seu filme é praticamente documental, uma transposição das horas de faxina na sua casa para a tela. É de muito bom gosto também as cenas na balada, com cores vibrantes e trilha sonora envolvente. Da atriz principal é exigido um pouco mais de expressões para atuações em cenas de conflito, e da diretora, embora tenha ótimas soluções para uma cena de atropelamento específico no filme, talvez precise caprichar um pouco mais no texto. E o final, é catártico, sublime.
Sete anos em maio
Sete anos em maio – Affonso Uchoa
O diretor Affonso Uchôa conheceu o protagonista do seu documentário, Rafael dos Santos, através de amigos em comum no bairro Nacional, em Contagem. Algum tempo depois, Fael desapareceu repentinamente do local. Affonso veio a saber, anos mais tarde, que a jornada do amigo envolveu tortura e ameaça policial, exílio forçado e vício em drogas. Mesmo com uma duração pouco usual para um curta-metragem, 42 minutos, Affonso prende e choca o público com relatos carregados de realismo e detalhes acerca de uma espécie de milícia que atua em comunidades pobres de Minas Gerais. Há um jogo de sombras que eleva a obra a um nível muito rebuscado da imagem que se espera de um documentário. A forma com que Uchoa conduz o relato de Rafael impressiona pela imagem e pelo texto, sem julgamentos, somos levados por um caminho obscuro, muito provavelmente distante da nossa realidade. O diretor é mestre em escancarar problemas sistematizados da nossa sociedade, como o racismo, a desigualdade e a truculência policial , esse talento se torna indiscutível no plano final que é acachapante. Um verdadeiro petardo.